Boletim Poético #26 | Viajar de carro, dirigir playlists, escrever poesia e outras coisas que fazem bem pra saúde
Compilado de conteúdo e links @ Portal Fazia Poesia, maio de 2024.
Da casa
Bom dia!
Hoje é terça-feira, dia 28 de maio de 2024.
Já se foi 41% de 2024.
Faz frio.
— Moça, por favor, um Histadin D! No crédito.
E aí, tudo bem?
Desde criança sempre viajei de carro. Prática comum de quem cresceu em cidades do interior (a minha, com 10 mil habitantes), ao 9 anos de idade eu já sabia dirigir. Minha mãe tinha uma Parati branca, 1.8, 95 (acho) e, sempre que oportuno, em estradas de terra, eu implorava pra dirigir. Fato é que após muita embreagem queimada, aprendi.
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Tenho comigo que esse contato desde cedo com a direção enraizou um gosto particular no qual não vejo problema algum em dirigir por 8 horas seguidas. É claro que alguns fatores influenciam, como o carro, a estrada, quem tá junto no carro, a apólice do seguro, o preço do etanol, a disponibilidade de um óculos de sol, são coisas importantes. Só quem já foi à praia em um fusca 69 com criança no banco de trás sabe do que eu tô falando (eu não sei). Tem também as playlists, substituídas por aquelas bolsas cheias de CD’s que ficavam na porta do passageiro. Uma boa playlist influencia muito mais a viagem do que qualquer outra coisa. Obrigado Spotify.
Estou dizendo tudo isso pois voltei a escrever. Após um bom tempo parado, longe da escrita mas próximo da leitura dos poemas (coisas que acontecem que você começa a estudar e trabalhar a edição), e muito motivado pela oficina da Bruna Mitrano que está rolando na FP, os versos têm saído.
Dirigir é prática, gosto e influência. Escrever também.
Aproveitando que o outono finalmente deu as caras, aqui está um poema:
poema de outono
nariz trancado
já ouço os sinos do inverno
o tempo vem limpo
nublado
a névoa indica que ele vem:
o afélio.
e quando chega meados de maio
gosto de acordar antes do sol nascer
pra sentir o cheiro da terra úmida
e ver as janelas ocultas
nas nuvens que descem aqui na cuesta
onde o vento gelado faz morada;
começo a tirar as jaquetas das gavetas
recarrego as lanternas
encomendo um antialérgico
e compro um maço de velas
acordo de madrugada
e faço um café.
o silêncio me conta
coisas sobre a vida
combinamos de se ver depois das seis
essa noite vai ser de geada
dentro do meu peito
publicado por Alex Zani em março de 2020 no portal Fazia Poesia.
Até a próxima newsletter!
Poeticamente,
Alex Zani ✍
editor-chefe do portal Fazia Poesia
indicamos
Lajes pintadas, de Jakenia Nascimento
Macabéa Edições | 57 páginas
Lajes pintadas, livro de estreia de Jakenia Nascimento, traz a morte e a vida como temas centrais, perpassando camadas de nostalgia voltadas à infância e à cidade do interior do Rio Grande do Norte, Lajes Pintadas, em que a poeta cresceu e viveu boa parte de sua vida.
A autora explora um universo imagético rico em detalhes: a receita de pirulito caseiro herdada da mãe, o açude da cidade onde cresceu, o grão batido, a terra molhada, a chegada de um pequeno planeta – seu filho – um pouco antes da partida de sua mãe. Aqui, o eu poético se entrelaça com a poeta, vida e obra propositalmente se misturam e dançam juntas.
Jakenia traz referências diretas às obras de Eliana Alves Cruz (Água de barrela) e Clarice Lispector (A hora da estrela) e Aline Bei (Pequena coreografia do adeus) em três poemas, além de duas epígrafes que abordam o luto de uma filha e o nascimento de uma criança, de Maria de Lourdes Hortas (Romaria) e Lucia Forghieri (Flor de asfalto), respectivamente.
“Lajes pintadas é um testemunho benfazejo sobre a possibilidade da cor, sem melindrar nenhum matiz”.
— Anna Clara De Vitto.
O prefácio é assinado por Anna Clara De Vitto, a orelha, por Silvia Barros, e a quarta capa, por Thainá Carvalho. A arte de capa é produzida por Caroline Silva a partir de uma pintura da artista plástica Maria Alice (integrante do coletivo Surto Criativo), feita em técnica de pontilhismo com aquarela.
Jakenia Nascimento é psicóloga, gestalt-terapeuta, atriz amadora – como costuma se intitular – e mãe de Pietro. Nordestina, nascida no Rio Grande do Norte, apaixonou-se pelo universo literário na primeira infância. Encontrou na poesia o seu altar da espiritualidade e seu ofício psicoterapêutico. A partir desse lugar de cura pessoal, a poesia é seu desvio de precipícios. Lajes pintadas é seu livro de estreia.
O livro foi lançado recentemente e está disponível na loja on-line da Macabéa Edições.
coletâneas
8 poemas flagrantes de Eduardo Barchiesi
Eduardo Barchiesi, nascido paulistano (SP) em 04/04/44, vive em Vinhedo, no interior paulista. Engenheiro, mestre, doutor em metalurgia (Politécnica USP) e bacharel em letras (português-latim FFLCH USP), exerceu a profissão de professor e engenheiro no campo da metalurgia. Ao seu primeiro livro, o romanceDemanda Furibunda(Edições Inteligentes, 2005), sucederam-se outros treze, entre romance, conto, infantil e poesia, sendo o últimoBestiário da Saúde(Chiado, 2021). Com linhas faz crochês, com palavras faz poemas.
E é com esses mesmos poemas — parte de sua estimada obra — que tecemos esta coletânea. A poesia de Eduardo encanta pela maturidade estilística em usar tudo que lhe convém — rimas e formas diversas, jogos de palavras, figuras de linguagem, somados a um humor ímpar. Sua obra provoca por sua acidez — ou seriam verdades incômodas? —, por sua maneira pungente de deflagrar tudo que se esconde aos nossos olhos. Tudo em suas palavras salta, apanha, prende e, sobretudo, cativa. O mais fino crochê, o mais fino bordado, um richelieu poético — que nos traja e, igualmente, desnuda.
Coletânea elaborada e publicada por Ísis Cunha, poeta e assessora de conteúdo no portal Fazia Poesia.
artigos
O equilíbrio é uma rasteira, por danilo crespo
A poesia é breve. Isso é inerente ao próprio formato. Enquanto um romance terá palavras em parágrafos ordenados que criam imagens e ideias para contar uma história, o poema é uma pilha de frases. Isto é, precisa-se de mais espaço na página para, em teoria, passar o mesmo número de informações. Um detalhe muda tudo. Nem precisamos contar histórias, nem precisamos de ordem. Essa página cheia de lacunas contém liberdade para quem escreve e para quem lê. Portanto, você não usa as mesmas formas ou palavras que usaria num romance. É necessário algo que justifique o espaço, se enraíze com as sementes jogadas ali e cresça. Porrada. Não temos doze rounds como o romance, temos que ir pro nocaute.
Aqui começa o paradoxo: quando penso sobre essa metáfora, algo não parece certo. O peso que naturalmente atribuo à força de um verso é diferente do peso de um corpo robusto de um romance ou outro formato em prosa. Nesse quesito é que a literatura vai mostrando suas complexidades que a tornam arte inesgotável. Um livro de ficção de muitas páginas muitas vezes vai trazer poesia em momentos para que haja beleza ou qualquer intensidade naquilo que se conta. E funciona. Por exemplo, Gabriel Garcia Márquez é um peso-pesado cujos golpes são certeiros e potentes.
[…]
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Quem Fez Poesia? #62 — Salma Soria
Palavras da editora:
Salma tem uma escrita de expansão, deliciosamente inquietante, inquietantemente deliciosa, de léxico e articulação muito próprios. Daria para esperar algo diferente de uma poeta cujo nome exala poesia?
Considero dádiva (dádiva que se desenvolve) escrever como quem reza baixinho, como se entoasse cântico, salmo, calma; escrever como quem mergulha nos mistérios salgados de mar, para ser sal da terra, luz do mundo; escrever como quem rodopia com saia esvoaçante, sem fazer rodeios. E Salma escreve.
As palavras
Nunca soube ensaiar o que dizer, muito menos prever as palavras. Deve ser por isso que escrevo, por não conseguir enxergar o dizer como um atalho para manipulações. O que significa controlar as palavras se elas saem sem prever um ensaio? Que lugar dar à iminente palavra que liga a ideia ao sentimento? Há muitos diálogos sem respostas, vontades abandonadas, impasses marcados. Na sucessão da lógica que fracassa, talvez aí resida a poesia.
Gosto de simular órbitas, tocar outras rotações, criar eixos. Na poesia, há a tentativa de alcançar instâncias que atravessam os segundos, transferindo o gesto do vento para uma luz que brilha na palavra. Não gosto de lidar com a normalidade da rotina, porque a farsa se vestiu de cotidiano. E isto não é nada amoroso. A poesia revela segredos que farsantes odeiam e é por isso que um poema pode ser tão perigoso, porque entre o valor pago e o valor percebido a poesia flana sem nenhum interesse monetário entre tudo o que há.
[…] continua
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EXPOSIÇÃO | Biografia e autoficção: a poesia enquanto elo da escrita de si
Passou batido na newsletter passada a exposição da nossa primeira oficina do ano, ministrada pela poeta Anna Clara de Vitto, na qual continuamos explorando a temática da autoficção e poesia, um tema trabalhado desde 2022 com Anna Clara.
O primeiro encontro focou nas noções de autoria, citando Roland Barthes e a "morte do autor", além de discutir os instrumentos de linguagem poética de Ezra Pound: melopeia, fanopeia e logopeia. Os segundo e terceiro encontros abordaram memórias, confissões, diários íntimos e o conceito de escrevivência de Conceição Evaristo, juntamente com o trabalho de Philippe Lejeune e a noção de biografemas de Barthes. Também discutimos o hibridismo da autoficção e sua aplicabilidade à poesia, lendo e trabalhando com poemas de Anne Sexton, Dia Nobre, Bianca Monteiro Garcia, entre outras. No quarto e último encontro, houve uma conversa livre para fechar ideias, discutir processos criativos e a influência da autoficção nas produções contemporâneas.
Leia a exposição na íntegra para conferir os poemas produzidos e os depoimentos.
Confira alguns dos poemas publicados recentemente no portal Fazia Poesia:
Lembre-se: você encontra esses e muito mais em faziapoesia.com.br.
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Por hoje é isso, obrigado pela leitura!