Boletim Poético #24 | Quando o outono chegar, estarei com livros, poemas, artigos e estudando poesia
Compilado de conteúdo e links @ Portal Fazia Poesia, março de 2024.
Da casa
Bom dia!
Hoje é terça-feira, dia 13 de março de 2024.
As coleções de verão estão em promoção.
É um bom momento para comprar regatas.
E aí, tudo bem?
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Já, já, começa o outono. É a minha estação preferida. A temperatura diminui um pouco, as folhas começam a cair e temos o equinócio de outono, um belíssimo evento astronômico que marca o momento em que o dia e a noite têm aproximadamente a mesma duração. Neste ano, o equinócio será dia 20 de março de 2024, às 00h06. Depois dessa data, as noites começam a aumentar dia após dia.
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Após o equinócio de outono, os dias gradualmente encurtam enquanto as noites se tornam mais longas, até o solstício de inverno, quando o dia mais curto do ano é alcançado: 20 de junho de 2024, às 17h51.
Ou seja, se você é da noite, como um vampiro ou um programador em Python, ou como eu, um mestrando atolado de coisas pra ler que com certeza irão se acumular, as noites longas podem se tornar uma ótima oportunidade para procrastinar, sair em busca de inimigos ou só ler mesmo. Só.
Fique com o Boletim Poético de hoje e lembre-se:
outras formas de amor, publicado por lucas lins no portal Fazia Poesia outras formas de amor se fazem na água tal como observar o pouso dum peixe na descida re voada trovão tritão sentir a falta do gosto — a lágrima salgada dor querer dizer “meu amor” sem sentir o fundo mas os pés titubeando o fundo inconsoli dado que a ciência não explica tomar um caldo se a fagar
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Até a próxima newsletter!
Poeticamente,
Alex Zani ✍
editor-chefe do portal Fazia Poesia
indicamos
Breve ato de descascar laranjas, de Bianca Monteiro Garcia
Macabéa e 7Letras | 128 páginas
breve ato de descascar laranjas fala do luto, da loucura e da clausura, através de uma divisão em quatro partes: descontinuidade de mohorovičić, crosta, manto e núcleo. O livro, apesar de levar no título uma fruta de cor quente, é frio, gelado e nostálgico, como o azul dos cianótipos que permeiam as páginas.
Notas pós-leitura, por Alex Zani:
No livro, a autora utiliza de recursos como a fotografia (em sua maioria dos anos 90), print de imagem captada pelo google maps, notícia no jornal do correio da manhã, rasuras em texto supostamente atribuído ao papa francisco e listas comportamentais praticamente impossíveis de cumprir (tal como os dez mandamentos).
Para nós, leitores nascidos nos anos 90, sinto que o livro atua como um espécie de filme nostálgico. Um filme, mesmo, na prática. As primeiras páginas remetem aos minutos iniciais de uma película, com cenas em azul-ciano, onde temos o nome da diretora (editora), a protagonista (Bianca), a epígrafe (Ana Cristina Cesar e Alejandra Pizarnik) o prefácio (aviso) e as primeiras cenas (poemas). Na primeira parte, descontinuidade de mohorovičić — minha preferida —, a autora nos insere no ambiente-contexto do livro, transformando-nos em coadjuvantes-observadores. Sabemos do pai, da sua partida, do velório, do enterro, da casa. Sabemos das memórias, da pele pálida e das plantas mortas. Sabemos do que era e do que fica. Surgem os primeiros traços de uma escrita autoficcional, onde o que acreditamos serem fatos e acontecimentos reais se transformam em matéria-prima para a criação poética.
Nas partes seguintes, crosta, manto e núcleo, é possível nos localizarmos em relação à laranja —ou ao tempo, com passado, presente, passado e presente. Tem-se o que vem antes, o que vem depois, e então estamos no abalo sísmico: percebe-se a potência poética de uma relação entre filha e pai e os meandros de uma família.
Há tempos eu não via um poema fechar tão bem um livro quanto este:
a performance
não há potes de ouro
língua também é corpo
e outro dia me lembraram
não há troféu na linha de chegada
É a cena final. Um lembrete; um aviso. A poesia sempre será uma forma de se materializar memórias, e não queremos nada em troca disso.
coletâneas
7 poemas despertos de Saru Vidal
Saru Vidal, poeta coletaneada neste artigo, tem 30 anos, é de Lisboa/Portugal e mora atualmente em São Paulo. Ela faz doutoramento no Programa dos Estudos Feministas (FLUC/CES) e é mestre em Estudos Africanos (pelo ISCTE-IUL) no ramo Estado e Política.
É autora de bagagem — o que tornou a viagem poética de conhecer e selecionar seus textos uma jornada deliciosamente desafiadora. Todas as suas obras dizem algo, e imprimem algo, e saboreiam, e escancaram um bocado. Eu diria ser a vida em si, pois Saru aborda temas cotidianos e igualmente ímpares, como quem pensa e deglute cada um deles ainda no raiar de um dia. Sua escrita é transparente e deveras convidativa — chamando-nos para refletir com ela, sentar para o café, como um conhecido antigo que ouve histórias de prazer e dor, histórias íntimas de uma poeta.
artigos
A vírgula entre terra e água em “Uma vírgula no findomundo”
Nesse artigo, Karenina do Nascimento Rodrigues nos apresenta uma resenha da obra Zeh Gustavo, publicado pela Editora Libertinagem.
O que seria da língua escrita sem os usos da vírgula? Pausa, separação, omissão e realce existiam na oralidade antes das regras da língua. A vírgula poderia entrar em extinção com o findomundo, mas os silêncios findariam? Existe findomundo quando o mundo não se fecha em nós? O mito de que a vírgula serviria para o respiro foca as pausas e os silêncios. Será um mito no sentido cientificista do século XIX? Será um mythos no sentido grego de origem, narração? A narrativa deixa o silêncio ao mesmo tempo que é constituída por ele.
Uma vírgula no findomundo não parece abrir mão de nenhum dos sentidos possíveis para a vírgula, embora prefira deixá-la entregue ao decoro da poesia contemporânea. Esta aparece tematicamente dominada por dois elementos principais, a terra e a água, contrastados pela inspiração da capa. A dessecação principia o livro, que está dividido em recolha, debulha, aspectos linguístico-fisiológicos do silo, descida na água-sangue do solo que cede e enxugo. O primeiro poema é dedicado a um artista brasileiro, Hugo Carvana, ator e diretor carioca falecido em 2014. O corpo morto faz hipóstase, e a circulação sanguínea para em direção à terra.
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Quem Fez Poesia? #61 — Penha Souza
uma mulher preta, nascida numa cidade de população majoritariamente branca. a filha mais nova de uma família grande. nasci na segunda quarta-feira de janeiro de 1992, de um parto considerado de risco, e o risco sempre fez parte da minha vida, especialmente pelos riscos que tomo no papel, ao escrever poemas. são esses os mais ousados riscos que me arrisco a cometer.
o começo
não lembro quando exatamente comecei a escrever poesia. às vezes digo que escrevo desde antes de me entender por gente. quando eu me entendi “gente”, eu já era poeta há muito tempo. no entanto, demorei pra entender que o que eu escrevia era poesia, e mais tempo ainda para me dizer poeta.
quando criança, eu amava trabalhos de português que pediam que os alunos escrevessem poemas, me divertia! mas na maior parte da infância e comecinho da adolescência eu escrevia poemas na intenção de que fossem letras para música. o problema é que meu ritmo sempre foi péssimo, e minhas habilidades musicais limitadas demais para serem chamadas de habilidades. mas fui notando que esse ritmo que eu notava fazia sentido na declamação, e bem devagar fui aprendendo a conhecer a minha própria escrita e entender melhor o que eu estava fazendo.
[…] continua
concursos e chamadas
3 concursos e 2 chamadas de poesia para março de 2024
Entramos no terceiro mês de 2024 e, aqui na FP, esperamos que, apesar das estranhezas dos tempos, os ventos estejam soprando e os movimentos estejam acontecendo, com potência e leveza, à medida do possível.
Nesta edição:
Prêmio Cataratas de Contos e Poesia
Festival Culturando de Literatura
Concurso literário Poesia Agora — 10ªedição
Chamada para plaquetes — Mormaço Editorial
Chamada permanente —
A curadoria de concursos busca priorizar sempre fontes críveis e confiáveis, bem como inscrições gratuitas. Acesse todos os detalhes a partir do artigo completo no botão abaixo.
Para escrever: curso teórico e prático de escrita com Lilian Sais, Laura Cohen, Luiza Romão e mais 8 professores
Para escrever é um curso teórico e prático de escrita criativa, que acontecerá a partir de abril de 2024, de forma on-line, via Zoom, às quartas-feiras, das 19h às 21h.
São bem-vindas pessoas que escrevem ou que têm desejo de escrever, independentemente do gênero textual: pode ser poesia, prosa e mesmo textos híbridos e de difícil classificação.
São 12 meses no total: de abril/2024 a março/2025. Esse período está dividido em 8 módulos temáticos mensais (de abril a novembro de 2024) mais um período de mentoria e acompanhamento de projetos (de janeiro a março de 2025).
Com um corpo docente experiente, diverso e altamente qualificado, o curso Para escrever proporciona abordagens instigantes sobre a criação literária em todas as suas formas.
Os módulos contam com os facilitadores: Tarsilla Couto de Brito, Nina Rizzi, Caetano Romão, Luiza Romão, Schneider Carpeggiani, Flávia Péret, Taís Bravo, Gabriel Gonzalez, Ricardo Terto, Laura Cohen e Lilian Sais.
A mensalidade é de R$ 390,00 e o pagamento pode ser via boleto ou Pix.
Para mais informações sobre o curso, basta clicar no botão abaixo e ir direto para o site do curso.