O fazer poético como terreno privilegiado para a exploração da autoria literária
Como a autoficção se torna uma ferramenta na escrita de poemas
Da casa
Boa tarde!
Hoje é dia 21 de fevereiro de 2024.
O clima está propício para a poesia.
Sempre está.
Na semana que vem (28) começa a nossa oficina de poesia com a poeta Anna Clara de Vitto. Nesta primeira oficina de 2024, oferecemos aos participantes um passeio pelos fundamentos teóricos essenciais para a construção da linguagem poética, analisados em conjunto com o estudo da (auto)biografia e da autoficção, temas que têm despertado grande interesse e suscitado vívidos debates na literatura contemporânea - além dos prêmios reconhecendo essas obras por aí, é claro.
O mergulho em tais tópicos, intensificado pela proposição de exercícios durante os encontros, proporcionará aos inscritos a oportunidade de testar os limites do próprio fazer poético, trazendo para a arena da poesia elementos em tendência no gênero.
A AUTORIA NA LITERATURA - Das inúmeras discussões travadas em torno da autoria na literatura, uma das mais interessantes é, sem dúvida, o peso da biografia autoral na interpretação da obra. Em 1968, Roland Barthes teorizou sobre a “morte do autor”, corrente que, para ele, exprimia o ato da escrita como “destruição de toda voz, toda origem. A escritura é esse neutro, esse composto, esse oblíquo aonde foge o nosso sujeito, o branco e preto onde vem se perder toda identidade, a começar pela do corpo que escreve”[1].
Porém, como todo movimento humano é cíclico, essa ideia foi e tem sido desafiada múltiplas vezes. Tendo em mente que a própria possibilidade de autoria, durante muito tempo, esteve extremamente restrita a poucas pessoas detentoras de privilégios, podemos situar as bases do chamado “retorno do autor” antes mesmo de sua “declaração de óbito”: no século XIX, a ideia universal de sujeito entrou em crise, abrindo-se caminho para a fragmentação de sua noção e especialmente para a emergência da memória como meio de recuperar e confirmar a existência individual. O próprio Barthes, travando diálogos com o pensamento de Michel Foucault, cunhou a noção de “biografema”, ou seja, a vida no fragmentário, no detalhe. A partir disso, é possível pensar a (re)inserção da figura do autor na literatura a partir de vários meios: diários, memórias, cartas, romances autobiográficos, autobiografias e autoficções.
BOM DIA, POESIA - No terreno da poesia, uma pergunta que se impõe é a pertinência da exploração da autoria no fazer poético. Em outras palavras, o “retorno do autor” poderia se servir de instrumentos de linguagem próprios nessa seara? Ezra Pound, no “ABC da Literatura”, definiu a literatura como “a linguagem carregada de significado”. A poesia, assim, seria o grau máximo de tensionamento da linguagem, de forma a comportar o máximo de significado, valendo-se da exploração de som e ritmo (melopeia), imagem (fanopeia) e das associações entre eles (logopeia).
Pensando nisso, não é difícil concluir que o uso da noção de biografema se harmoniza perfeitamente com as ferramentas da linguagem poética, consistindo em uma forma de adicionar camadas e, portanto, significado ao poema. É possível, até mesmo, afirmar que a própria ideia de “eu-lírico” se expande e ganha em complexidade com a biografemática associada aos instrumentos discutidos.
Ao longo dos quatro encontros da oficina “Biografia e autoficção: a poesia enquanto elo da escrita de si”, vamos trabalhar a escrita poética com exercícios práticos e criativos a partir fotos, observações, memórias, percepções intuitivas e muito mais: vamos absorver os conceitos de melopeia, fanopeia e logopeia e identificar quais imagens, ritmos e associações podem ser interessantes para a criação do poema. No último e quarto encontro teremos um momento único para que cada participante compartilhe sua escrita e dialogue com a turma sobre a sua criação; é uma etapa muito interessante e rica, que abre portas para adaptações e novos formatos do poema.
Após a oficina, publicaremos o resultado dos exercícios no portal Fazia Poesia, em um artigo de exposição sobre a oficina, que também será divulgado aqui, em nossa newsletter, e no Instagram. As referências e poemas utilizados na oficina envolvem nomes como Marguerite Duras, Conceição Evaristo, Anne Sexton, Dia Nobre e Bruna Mitrano, entre outras.
E aí, você vem com a gente? ✍
Temos apenas 12 vagas disponíveis na oficina, que acontece nos dias 28/fev, 2, 6 e 9 de março de maneira síncrona (ao vivo), pela plataforma Zoom.
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Nos vemos por lá!
Poeticamente,
Alex Zani e Anna Clara de Vitto.
[1] Barthes, 1988b, p. 65, apud FIGUEIREDO, 2013 p. 16